Um Choque de Realidade

Por Renata Brás

Eu nunca imaginei que a maior noção de realidade chegaria a mim atráves de uma série de imagens que hoje assisti no confortável auditório com ar condicionado da minha querida faculdade. Mas a palestra de hoje não foi para mim, apenas mais uma dentre tantas outras. Ela ficará marcada como o dia em que não tive mais dúvidas de que profissão quero seguir.

O cinegrafista da Rede Globo, Júnior Alves estava fazendo sua apresentação, respondendo às perguntas dos alunos e mostrando as imagens de seu trabalho. Imagens sem cortes e com áudio ambiente mostravam o dia-a-dia dos policias que fazem incursões em comunidades para apreender drogas e armas, e possivelmente prender algum bandido. É mais do que óbvio que os policiais serão recebidos com tiros das mais variadas armas e calibres, sem contar a localização muito melhor dos traficantes que se esgueiram pelas vielas e lajes no alto do morro, tendo uma visão privilegiada do que acontece ou deixa de acontecer na favela.

Primeiro foram os tiros, depois um grito de um traficante baleado, mais tiros, policias correm, tentam se proteger, tentam vizualizar um alvo, diálogo entre os policias. Outra comunidade, uma mulher morta com um tiro na cabeça, um marido desesperado, uma população revoltada, policias perdidos em meio ao dever de proteger as pessoas ou caçar bandidos. Mais uma comunidade, mais duas pessoas mortas, a câmera mostra seus rostos, seus ferimentos, seu sangue. Mais tiros, mais gritos, mais desespero.

Então tive a certeza de que essa é a verdadeira realidade do nosso país. Vivemos nossas vidas, apenas a NOSSA realidade e vemos a crueldade do mundo com hora marcada na TV. Ficamos chocados com tamanha violência, mas depois do fim do telejornal, voltamos às novelas, filmes, músicas, enfim, algo que nos distancie do horror de uma vida sem leis, sem regras, onde estamos sozinhos e podemos perder tudo que conhecemos em um milésimo de segundo. Me dei conta de que precisamos disso, pois viver a realidade nua e crua o tempo todo seria insuportável.

E os nossos políticos??Como será que pretendem lidar com essa realidade?? Dizem que quem apresenta o problema tem por obrigação pelo menos sugerir uma solução. Bom, eu ficarei devendo isso, pois a raiz do problema é tão profunda e possui tantas ramificações que eu não poderia ter a presunção de dizer o que deve ser feito. Apenas insisto que a sociedade como um todo deveria refletir sobre as bases do nosso sistema. Já dizia Pitágoras " educai as crianças e não será preciso punir os homens". Acredito que a educação e a informação sejam alguns dos meios de começar essa reflexão. Por isso, hoje decidi que realmente quero ser jornalista.